Vamos explorar como viés de ancoragem, confirmação, disponibilidade, efeito de enquadramento e viés de retrospectiva, influenciam nossas decisões e percepções, cada viés é explicado com exemplos práticos, mostrando como eles podem distorcer o julgamento em situações pessoais e profissionais.
Os vieses cognitivos se baseiam em padrões sistemáticos que o cérebro humano usa para processar informações, estes padrões são formados como resultado de como o cérebro economiza energia e tempo ao tomar decisões, em vez de analisar a grande quantidade de informações que recebemos diariamente, o cérebro, na tentativa de processar e tomar decisões rápidas a maioria das vezes usam heurísticas (“atalhos mentais”).
Embora esses atalhos sejam eficientes em muitas situações, eles também com frequência podem levar a erros de julgamento e decisões distorcidas, um exemplo clássico é o viés da ancoragem, onde as pessoas se baseiam excessivamente na primeira informação recebida ao tomar decisões subsequentes.
Em experimentos, foi demonstrado que os participantes que foram expostos a um número alto ou baixo inicialmente tendiam a estimar outros números subsequentes em torno dessa “âncora” inicial, mesmo que ela fosse irrelevante (Mayo Oshin).
Continue a leitura que vamos abordar com mais detelhes abaixo.
Os vieses cognitivos são um reflexo da maneira como nossos cérebros evoluíram para lidar com o ambiente complexo e incerto em que vivemos, em situações de risco ou incerteza, nossos antepassados precisavam tomar decisões rápidas para sobreviver.
Apesar de que esses mecanismos mentais tenham sido úteis para a sobrevivência em contextos ancestrais, eles podem não ser adequados para o mundo moderno, onde as decisões são mais complexas e as consequências podem ser mais graves.
Origem e Natureza dos Vieses Cognitivos
Introduzidos inicialmente pelos psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman na década de 1970, esses desvios mentais são fundamentais para compreender por que as pessoas nem sempre agem de maneira racional, mesmo em situações críticas.
Kahneman, em particular, aprofundou essa análise em seu livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar” (2011), onde descreve o “Sistema 1” (rápido e intuitivo) e o “Sistema 2” (lento e analítico) do pensamento.
Os vieses cognitivos surgem, em grande parte, porque o Sistema 1, que é automático e rápido, domina a maior parte de nossas decisões cotidianas, ele se baseia em associações e experiências passadas, o que pode levar a respostas imediatas, mas frequentemente imprecisas, o Sistema 2, embora mais preciso, é mais lento e exige mais esforço cognitivo, sendo acionado com menos frequência.
Tipos Comuns de Vieses Cognitivos
Existem inúmeros vieses cognitivos que afetam afetam praticamente todos os aspectos da vida humana, desde decisões financeiras e médicas até julgamentos legais e interações sociais.
Vamos explorar alguns dos mais comuns e suas implicações abaixo:
- Viés da Ancoragem: O viés da ancoragem é um fenômeno cognitivo que ocorre quando as pessoas dependem excessivamente da primeira informação (ou “âncora”) recebida ao tomar decisões subsequentes, essa primeira informação influencia fortemente os julgamentos e estimativas, mesmo que seja irrelevante ou imprecisa.
Por exemplo, em um experimento clássico conduzido por Amos Tversky e Daniel Kahneman, participantes foram solicitados a estimar a porcentagem de países africanos na ONU.
Antes de dar suas respostas, eles giraram uma roda de números que estava manipulada para parar em 10 ou 65.
Aqueles que receberam o número 65 estimaram uma média de 45%, enquanto os que receberam 10 estimaram 25%, mesmo que o número da roda não estivesse relacionado ao problema, ele atuou como uma âncora, influenciando as estimativas dos participantes (Mayo Oshin, “artigo em inglês”).
Esse viés é particularmente relevante em negociações, marketing e finanças.
Por exemplo, o preço inicial de um produto pode servir como âncora, fazendo com que descontos pareçam mais atraentes, da mesma forma, em negociações, a primeira oferta geralmente define o tom para as discussões subsequentes, influenciando as expectativas e os resultados finais.
O viés da ancoragem pode ser prejudicial porque limita a consideração de outras informações relevantes, mesmo especialistas, como médicos ou juízes, podem ser influenciados por âncoras em seus julgamentos, levando a decisões menos precisas.
Reconhecer e entender esse viés pode ajudar as pessoas a tomar decisões mais equilibradas, considerando uma gama mais ampla de informações antes de chegar a uma conclusão (Future of Sourcing, “artigo em inglês”) . - Viés da Confirmação: O viés de confirmação é uma tendência cognitiva em que as pessoas favorecem informações que confirmam suas crenças e ignoram ou minimizam evidências que as contradizem.
Esse viés ocorre porque, naturalmente, buscamos consistência em nossas crenças e evitamos a dissonância cognitiva, que é o desconforto psicológico causado por informações que desafiam nossas convicções.
Por exemplo, ao pesquisar sobre um tema polêmico, uma pessoa com forte opinião pode buscar fontes que reforcem seu ponto de vista e evitar aquelas que apresentam argumentos contrários.
Esse comportamento pode levar à formação de opiniões ainda mais extremas e polarizadas, à medida que a pessoa se expõe apenas a informações que corroboram suas crenças (Verywell Mind, “artigo em inglês”).
O viés de confirmação pode ter implicações significativas em várias áreas, como na ciência, onde pesquisadores podem, inconscientemente, selecionar dados que confirmem suas hipóteses iniciais, ignorando dados que as refutem.
No contexto das redes sociais e da internet, o viés de confirmação é amplificado pelos algoritmos, que tendem a mostrar conteúdo que se alinha às preferências do usuário, reforçando suas crenças existentes e criando “bolhas” de informação.
Além disso, o viés de confirmação pode afetar a tomada de decisões em ambientes como negócios e medicina, profissionais podem focar em dados que suportam suas expectativas iniciais, o que pode levar a diagnósticos ou decisões estratégicas inadequadas.
Reconhecer o viés de confirmação é crucial para desenvolver um pensamento mais crítico e equilibrado, uma maneira de mitigar esse viés é deliberadamente buscar informações que desafiem suas opiniões e considerar seriamente os argumentos opostos antes de chegar a uma conclusão. - Viés de Disponibilidade: O viés de disponibilidade é uma distorção cognitiva em que as pessoas tendem a julgar a probabilidade ou frequência de um evento com base na facilidade com que exemplos semelhantes vêm à mente.
Em outras palavras, se um evento ou informação específica é mais fácil de recordar, as pessoas podem superestimar sua importância ou frequência, mesmo que a evidência objetiva não suporte essa percepção.
Esse viés ocorre porque nosso cérebro prefere usar informações prontamente disponíveis na memória, especialmente aquelas que são vívidas, recentes ou emocionalmente impactantes.
Por exemplo, após assistir a uma notícia sobre um acidente de avião, uma pessoa pode começar a acreditar que esses acidentes são mais comuns do que realmente são, ignorando as estatísticas que mostram que voar é uma das formas mais seguras de transporte .
O viés de disponibilidade pode influenciar decisões importantes em várias áreas, como nas finanças, onde investidores podem tomar decisões baseadas em eventos recentes e não em uma análise abrangente do mercado.
Da mesma forma, em situações de risco, as pessoas podem superestimar a probabilidade de eventos catastróficos simplesmente porque esses eventos são amplamente divulgados pela mídia.
Esse viés também afeta o comportamento social e a formação de opiniões.
Por exemplo, se uma pessoa está frequentemente exposta a informações sobre crimes em uma cidade, ela pode acreditar que a criminalidade é mais alta do que realmente é, o que pode influenciar suas decisões sobre onde morar ou quais áreas evitar .
Reconhecer o viés de disponibilidade é essencial para tomar decisões mais informadas e baseadas em evidências, uma abordagem eficaz para mitigar esse viés é buscar informações objetivas e considerar uma gama mais ampla de dados antes de formar uma opinião ou tomar uma decisão. - Efeito de Enquadramento: O efeito de enquadramento, ou “framing”, é um viés cognitivo que ocorre quando a maneira como uma informação é apresentada influencia as decisões e julgamentos das pessoas.
Essencialmente, o efeito de enquadramento explora como diferentes formulações de uma mesma questão podem levar a percepções e escolhas distintas, mesmo que a informação subjacente seja idêntica.
Um exemplo clássico do efeito de enquadramento foi demonstrado por Amos Tversky e Daniel Kahneman em seus estudos, Eles apresentaram aos participantes dois cenários sobre um tratamento médico: um que descrevia a sobrevivência como 90% bem-sucedida e outro que mencionava a morte de 10% dos pacientes.
Apesar de as estatísticas serem equivalentes, os participantes mostraram uma forte preferência pelo tratamento descrito em termos de sobrevivência positiva, evidenciando como o enquadramento positivo pode levar a decisões mais favoráveis .
O efeito de enquadramento tem amplas implicações em diversas áreas, como marketing, política e comunicação de riscos.
Em marketing, um produto descrito como “95% livre de gordura” tende a ser mais atraente do que o mesmo produto descrito como “contém 5% de gordura”, mesmo que ambos sejam idênticos.
Da mesma forma, em campanhas políticas, a forma como as políticas públicas são comunicadas pode afetar significativamente o apoio público, dependendo se são enquadradas de maneira positiva ou negativa.
Entender o efeito de enquadramento é crucial para desenvolver uma comunicação eficaz e para ser um consumidor e tomador de decisões mais consciente, estar ciente de como as informações são apresentadas pode ajudar a evitar a manipulação por meio de enquadramentos que distorcem a percepção da realidade, promovendo escolhas mais informadas e racionais. - Viés de Retrospectiva: O viés de retrospectiva, também conhecido como “efeito do eu-sabia-tudo”, é uma distorção cognitiva em que as pessoas, ao olharem para eventos passados, acreditam que esses eventos eram mais previsíveis do que realmente eram.
Esse viés faz com que as pessoas ajustem sua memória ou percepção dos fatos para acomodar o que já aconteceu, muitas vezes pensando que “sempre souberam” que o resultado seria o que de fato ocorreu.
Esse viés pode ser observado em diversas situações.
Por exemplo, após uma eleição, muitos podem alegar que “sempre souberam” que um determinado candidato venceria, mesmo que, antes dos resultados, a eleição fosse amplamente considerada incerta.
Da mesma forma, em investimentos, investidores podem olhar para uma queda no mercado e pensar que a crise era óbvia, quando, na realidade, eles não previram a queda.
O viés de retrospectiva pode ser problemático porque distorce nossa compreensão dos eventos e impede que aprendamos com os erros, quando acreditamos que algo era “óbvio”, podemos não avaliar adequadamente as razões pelas quais falhamos em prever corretamente o evento, o que reduz nossa capacidade de tomar melhores decisões no futuro.
Além disso, esse viés pode levar à superconfiança, onde as pessoas acreditam que suas previsões futuras serão mais precisas do que realmente são.
Para mitigar o viés de retrospectiva, é importante manter registros detalhados de decisões e previsões feitas antes dos eventos, isso pode ajudar a contrastar a memória retrospectiva com a realidade do que foi realmente pensado no momento, promovendo uma análise mais honesta e objetiva dos resultados e decisões passadas . - Viés de Ação: O viés de ação é uma tendência cognitiva em que as pessoas sentem uma forte inclinação para agir, mesmo quando a ação pode não ser necessária ou pode ser contraproducente.
Esse viés ocorre especialmente em situações de incerteza ou pressão, onde a falta de ação pode ser interpretada como passividade ou incompetência, em muitos casos, a ação é vista como uma maneira de tomar controle da situação, mesmo que a melhor resposta seja não fazer nada.
Esse viés pode ser observado em diversas áreas, como nos esportes, onde treinadores e jogadores podem sentir a necessidade de fazer alterações em suas táticas, mesmo que a situação exija paciência.
Da mesma forma, em investimentos, os investidores podem sentir a necessidade de comprar ou vender ativos frequentemente, mesmo quando a estratégia de “não fazer nada” poderia ser mais vantajosa a longo prazo.
No ambiente de trabalho, o viés de ação pode levar a decisões precipitadas, gestores podem implementar mudanças rápidas em resposta a problemas percebidos, sem uma análise completa das consequências dessas ações, isso pode resultar em soluções mal planejadas que não resolvem o problema e, em alguns casos, o agravam ainda mais o problema.
Mitigar o viés de ação exige uma compreensão clara de quando a inatividade é a escolha mais estratégica.
É importante considerar todas as opções, incluindo a possibilidade de não agir, e avaliar os possíveis resultados antes de tomar uma decisão, treinamentos que incentivem a paciência e a análise cuidadosa, além de uma cultura organizacional que não valorize exclusivamente a ação, podem ajudar a contrabalançar esse viés.
Reconhecer o viés de ação é essencial para tomar decisões mais equilibradas, especialmente em situações onde a ação pode não ser a melhor resposta.
Vieses cognitivos são distorções sistemáticas no pensamento e no julgamento humano que ocorrem quando usamos atalhos mentais para tomar decisões rapidamente. Esses atalhos, conhecidos como heurísticas, muitas vezes levam a erros previsíveis de raciocínio.
O viés de ancoragem ocorre quando as pessoas baseiam suas decisões em uma informação inicial, ou “âncora”, e ajustam suas estimativas subsequentes em torno dessa âncora, mesmo que ela seja irrelevante.
Isso pode influenciar decisões de compras, negociações e outros contextos onde a primeira informação tem um peso desproporcional.
O viés de confirmação nos leva a buscar, interpretar e lembrar informações que confirmem nossas crenças preexistentes, enquanto ignoramos ou minimizamos dados que as contradizem.
Isso pode reforçar opiniões erradas e prejudicar a tomada de decisões equilibradas.
O viés de disponibilidade ocorre quando as pessoas estimam a probabilidade de eventos com base na facilidade com que exemplos semelhantes vêm à mente.
Eventos mais recentes ou emocionalmente impactantes são mais lembrados, o que pode levar a julgamentos distorcidos sobre a frequência ou importância desses eventos.
O efeito de enquadramento refere-se à influência que a apresentação de informações tem sobre nossas decisões e percepções.
A mesma informação pode gerar respostas diferentes dependendo de como é apresentada, como destacar uma taxa de sobrevivência em vez de uma taxa de mortalidade.
O viés de retrospectiva, ou “eu-sabia-tudo”, é a tendência de acreditar que eventos passados eram mais previsíveis do que realmente eram.
Após um evento ocorrer, as pessoas ajustam sua memória para acreditar que poderiam ter previsto o resultado, o que distorce o entendimento das verdadeiras incertezas envolvidas.
O viés de ação leva as pessoas a preferirem agir em vez de não fazer nada, mesmo quando a inatividade poderia ser mais benéfica.
Esse viés pode resultar em decisões precipitadas ou desnecessárias, que nem sempre são as melhores respostas a um problema.
No ambiente de trabalho, o viés de confirmação pode levar gestores a focar em informações que validem suas estratégias, ignorando sinais de alerta ou feedbacks que indiquem a necessidade de mudanças.
Isso pode resultar em decisões equivocadas e na perpetuação de erros.
Vieses como o de ancoragem e o de disponibilidade podem influenciar decisões financeiras, levando as pessoas a superestimar a probabilidade de eventos recentes ou a basear suas decisões em informações iniciais irrelevantes, o que pode resultar em investimentos ruins ou decisões de compra impulsivas.
O viés de retrospectiva pode impedir a aprendizagem adequada ao fazer as pessoas acreditarem que sabiam o resultado de um evento todo o tempo. Isso pode reduzir a reflexão sobre o que realmente contribuiu para o resultado e dificultar a melhoria de processos futuros.
Mitigar os vieses cognitivos envolve estar consciente de sua existência e praticar uma tomada de decisão mais deliberada.
Isso inclui buscar ativamente informações que desafiem nossas crenças, considerar diferentes perspectivas e utilizar processos estruturados para tomada de decisões.
Compreender os vieses cognitivos é crucial para melhorar nossas decisões em todos os aspectos da vida.
Reconhecer essas distorções pode ajudar a evitar erros previsíveis, levar a julgamentos mais equilibrados e promover uma maior objetividade na análise de informações.